segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Compreensão que Transcende





Para compreender melhor a realidade, nós precisamos ir além de nossa mente/ego, pois quanto mais puros os canais por onde flui a percepção, melhor compreensão haverá.
Se nossa intenção for sincera, seremos humildes perante a Sabedoria que rege a existência e jamais abrigaremos o desejo de convencer ninguém de qualquer ponto de vista, pois já disse Sócrates: "O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância."

Nan-In, um mestre japonês durante a era Meiji (1868-1912), recebeu um professor de universidade, que veio lhe inquirir sobre Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas.
Nan-In, enquanto isso, servia o chá. Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda.
O professor, vendo o excesso se derramando, não pode mais se conter e disse:
"Está muito cheio! Não cabe mais chá!"
"Como esta xícara," Nan-in disse, "você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como eu posso lhe demonstrar o Zen sem que você primeiro esvazie sua xícara?"

Este pequeno conto oriental demonstra precisamente a necessidade da RECEPÇÃO de quem quer aprender estar LIVRE E DESIMPEDIDA de conceitos e de respostas já esperadas, pois de outra forma seria impossível uma compreensão verdadeira.
O intenção de quem quer RECEBER deve ser IGUAL de quem quer DOAR, pois alguém pode ter a intenção sincera de transmitir algo, mas se quem supostamente quiser aprender não tiver a mesma intenção para receber a informação livre de idéias pré concebidas, se sua "xícara não estiver vazia" de nada adiantará.
Logicamente que ter a intenção de explicar algo a quem não perguntou nada é molestar essa pessoa com informação que não pediu.
Portanto o silêncio é característica de quem não quer amolar os outros, e quando a pessoa que pergunta se mostra na realidade não interessada de verdade na resposta, somente o silêncio é a melhor resposta, pois "em xícara cheia não cabe mais chá".


Por outro lado, se a pessoa está realmente interessada na resposta, ela terá uma atitude totalmente diferente, sendo verdadeiramente humilde e se colocando numa postura RECEPTIVA para poder absorver tudo o que tiver capacidade no momento."Só sei que nada sei" é a atitude correta e natural.


E da mesma maneira que alguém que quer aprender sobre algum assunto mais complexo ou profundo, deve primeiramente se APROFUNDAR no assunto para poder ter uma compreensão melhor, quem está realmente interessado em respostas profundas e não superficiais deve estar aberto a um aprofundamento de visão necessário para uma compreensão que transcende a visão comum e superficial.


Lembrando sempre que nossa ignorância é momentânea, e que quando finalmente decidirmos em nosso interior esclarecer nossas dúvidas, é o início da sabedoria.


E cai em erro quem acredita que quem tem profundidade de visão seja arrogante, pelo contrário, o verdadeiro sábio só pode ser humilde e amoroso, enquanto o não-sábio, esse sim se arroga mais conhecedor da vida do que os outros, pois acredita que a sabedoria está em seus conhecimentos relativos, em sua erudição e em seu "status" perante a sociedade.


O verdadeiro sábio sabe que existem níveis de percepção da realidade, por isso mesmo nada julga, apenas vê os fatos e a vida como ela se apresenta, em sua totalidade. E sabe que só quem está pronto para uma compreensão mais profunda, irá se desapegar de sua compreensão ultrapassada.

5 comentários:

  1. não tenho palavras,

    mas lao-tsé tem,

    "quem sabe cala,
    quem fala não sabe"

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  2. é isso aí, só se pode falar se for de coração, se for da mente/ego, eu to fora mermão! hehehe

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  3. Segundo me parece, é preciso certas habilidade nestes momentos, tanto de um mestre, quanto de um aprendiz.

    Se um mestre verdadeiro, daqueles que se sabe apenas um vaso, ou um canal, recebe a visita de um aprendiz ingênuo, afoito e sedento da verdade, usando de certa habilidade que já possui em conduzir um encontro, tanto um quanto o outro podem tirar proveito da experiência.

    O mestre verdadeiro ao olhar para uma pessoa sabe de quem se trata, e como tratá-lo.

    O aprendiz ou um curiosos ou um molestador intelectual, por não possuir ainda tal habilidade, a de não se postar humildemente como ignorante que é, pode ser ajudado nesta hora sem que seja preciso uma única palavra.

    Um sábio compreende que tudo o que lhe chega, trás alguma oportunidade de praticar o amor incondicional, a humildade e ser altamente intuitivo.

    Um ignorante não, por não saber e compreender a Impermanência das coisas, usará o único recurso que tem ou conhece no momento: a consciência egoica.

    Como pode haver nestes momentos algum tipo de separação se ela não existe?

    Um vê, compreende e serve. O outro está no escuro, nada percebe além da balbúrdia dos pensamentos e serve apenas ao próprio ego.

    Digam-me: quem está precisando verdadeiramente de aprender o que é humildade?

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  4. Caro Gilmar, obrigado pelo seu comentário!
    Realmente tanto o que vê quanto o que não vê precisam de humildade, pois essa separação, como todas, são apenas momentâneas, e quando o Guru (um servo da arte de esclarecer, de fluir luz, dissipador de trevas, de ignorância) esclarece a dúvida do discípulo, a sabedoria é transmitida, assim nesse momento não há mais separação pois a sabedoria não pertence a ninguém, nem ao mestre e nem ao discípulo, como você bem disse ela flui, de canal para canal, contanto que o canal que pretende receber esteja aberto a tal recepção.
    O único problema que pode ocorrer (no caso de um verdadeiro mestre, humilde canal), e a intenção do post era deixar isso claro, é a diferença (mesmo que momentânea) entre um molestador intelectual (um ser que vive com sua consciência na mente/ego e não pretende transcender, pelo menos não conscientemente), um mero curioso (ainda que sem intenção de molestar) e um aprendiz ou discípulo (ser com humildade, já buscando transcender seu próprio ego/mente)
    A Vida nos revela ignorantes de nós mesmos, e a ilusão da separação nos faz acreditar que eu sou o Pietro e você é o Gilmar, mas não há separação real, é apenas ilusória (momentânea), pois somos todos Um.
    Grande abraço!

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  5. Diante do ótimo comentário do Gilmar eu atualizei o post, e espero com isso deixar mais claro ainda a intenção que tive ao escrever o texto, pois escrevi ele do ponto de vista de um aprendiz falando a outros aprendizes.
    =)
    PAZ e LUZ

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