quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Decidindo Seguir um Caminho Espiritual - Por Tenzin Wangyal Rinpoche



Antes de decidirmos seguir o caminho de um ensinamento espiritual, de qualquer cultura ou credo que venha, é necessário investigar nossa motivação para fazermos isso. A principal razão para nos tornarmos interessados em seguir um ensinamento não é porque não temos mais nada para fazer, ou porque precisamos nos manter ocupados, mas porque queremos em nossas vidas algo diferente do que vemos ao nosso redor.
Quando descobrimos o modo pelo qual vivem as pessoas “normais” — que não acham qualquer coisa importante em sua existência — e quando vemos que as atividades com as quais elas se tornaram acostumadas a preencher suas vidas não resolvem o problema do sofrimento que a nossa existência no ciclo do samsara nos traz, nós realizamos que temos de fazer algo diferente de nossa vida cotidiana. A maioria das pessoas não tenta entender estas coisas, e o que está além do seu entendimento não existe para eles. O que nós estamos tentando descobrir como praticantes espirituais, o que estamos tentando fazer, não é de interesse para elas. Não acreditam em qualquer coisa que não possa ser vista a olho nu. Devemos evitar a cegueira desse extremo, mas nossa busca espiritual também não deve ser um tipo de fantasia espiritual, um modo de evitar a realidade cotidiana.
A fim de praticarmos, antes de tudo é importante entendermos a morte e o renascimento, pois é através da conscientização sobre o ciclo de sofrimento que nós nos aproximamos do ensinamentos pela primeira vez. Através da investigação, podemos realizar que a nossa existência humana, nosso precioso nascimento humano, nos dá uma grande oportunidade, já que, através do nosso contato com os ensinamentos, podemos aprender como usar nossa inteligência para examinarmos nossos pensamentos e para observarmos como eles dão origem ao nosso apego, e podemos descobrir como levar o nosso apego e o conseqüente ciclo do sofrimento a um fim.
Incidentalmente, os ensinamentos espirituais não estão limitados à dimensão humana; até mesmo os animais podem praticar e atingir a realização. De fato, há histórias de mestres que foram capazes de se comunicar com animais e que transmitiram ensinamentos a eles. Por exemplo, há uma história sobre um mestre do início do século XX que costumava se comunicar com ietis, bodes e pombos. Um dia, um pombo foi à tenda onde este mestre estava dando um ensinamento. O mestre interrompeu o ensinamento e foi para fora, sentou-se em frente do pombo e se comunicou com ele sem palavras. O pássaro estava muito fraco e não podia se sentar na postura correta, então o mestre colocou um pouco de arroz em uma tigela e colocou o pássaro em um monte no arroz para que ele pudesse assumir a posição de meditação. Depois de receber ensinamentos na postura de meditação correta por alguns momentos, o pombo morreu e atingiu a liberação.
Humano ou animal, a fim de levar o ciclo do samsara a um fim, devemos descobrir a fonte do sofrimento. Esta fonte é a mente pensadora que dá origem às paixões e ao apego. O único modo de superar os venenos das cinco paixões e de suas manifestações é trazer a mente sob controle. Isto pode ser feito através da prática de ensinamentos que nos exortam a nos observarmos a fim de compreender a mente apegada e, através da prática, a superá-la. Deste modo, os ensinamentos nos guiam para descobrirmos a natureza subjacente da mente e a integrar sua condição verdadeira com a vida diária.
Mas muitas pessoas, críticas ao Dzogchen, questionam porque precisamos praticar se, de acordo com o Dzogchen, o estado búddhico é de fato o nosso estado natural. Se a nossa natureza verdadeira já é o estado búddhico, para quê cultivar a iluminação? Não podemos evitar estas críticas já que, de acordo com o Dzogchen, o estado búddhico é de fato o nosso estado natural. Não precisamos criá-lo, mas apenas descobri-lo através de nossa meditação. Mas se simplesmente concordarmos com nossas críticas, isto significaria que não há necessidade de praticar. Estas são coisas importantes para se pensar. Devemos responder que, apesar de o estado natural da mente ser primordialmente puro, há dois modos de ser puro. As máculas ou obscurecimentos não estão na natureza da mente (tib. semnyi / sem nyid), mas na mente que se move (tib. sem / sems), então eles podem ser purificados. É como na história de uma velha mendiga que toda noite dormia sobre uma almofada de ouro: ele era rica, mas já que não apreciava o valor do ouro, pensava que era pobre. Do mesmo modo, a pureza primordial de nossa mente não é de qualquer utilidade para nós se não estivermos conscientes dela e se não a integrarmos com a nossa mente que se move. Se realizarmos nossa pureza inata mas apenas de tempos em tempos nos integrarmos com ela, não estaremos totalmente realizados. Estar em integração total, todo o tempo, é a realização final. Mas muitas pessoas preferem pensar e falar sobre a integração ao invés de realizá-la.
Muitas vezes os praticantes de Dzogchen dizem, “Você não pode pensar ou falar sobre o Dzogchen porque ele é inefável”. Mas não é algo como: a experiência do Dzogchen está além dos pensamentos e palavras, mas nós praticantes não estamos além das dúvidas e perguntas, e nós precisamos resolvê-las. Não podemos simplesmente dizer, “Eu sou um praticante de Dzogchen, eu não quero ter dúvidas”. Dizer isto não é suficiente para se livrar delas, então é importante pensar sobre estes assuntos, caso contrário permaneceremos no estado dúvida e não atingiremos o estado puro. Por exemplo, se no Dzogchen dizemos que a nossa mente natural é espontaneamente perfeita, estamos querendo dizer que já temos a qualidade da realização em nós mesmos e que não é algo que devamos obter a partir de fora. Mas apesar de isso ser uma qualidade que é inata, temos de desenvolvê-la. A analogia tradicional é o modo pelo qual a qualidade da manteiga já existe no leite: para obter a manteiga, temos de bater o leite.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Importância de Relaxar - Por Sri Prem Baba



Comentário: Lembra que eu te falei que minha vida era um “não geral”? E para quem estava tão mal, agora está tudo tão bom! E eu sei que existe esse eu idealizado, e às vezes eu fico com dificuldade de discernir...


Prem Baba: Você deve simplesmente relaxar no bom. Não questione o bom. Não se preocupe com isso. Isso é material de escola quando você está perturbado. Aí você vai usar isso como material para compreender melhor esse eu idealizado. Se não está se sentindo perturbado, você está bem, relaxe no bom, curta a vida!


O que ocorre quando o aspirante a discípulo assume a imperfeição em cima dessas duas qualidades essenciais?
Se o aspirante a discípulo tem suas imperfeições nessas qualidades necessárias, ele deve relaxar nisso e compreender que ele ainda não é um discípulo. É um aspirante a discípulo. Quando você quer ser aquilo que você não é, você tem um problema. Você deve desistir completamente de ser aquilo que você não é. Esqueça isso. Você vai projetar no mestre as suas esperanças. Você vai ficar esperando que o mestre transforme a sua vida.


A iluminação não está no futuro. A iluminação está aqui e agora. Não é um “vir a ser”. Já é. Se você está esperando se iluminar, a iluminação não acontecerá. Se você está esperando ser um discípulo, o discipulado não virá. Porque você está tentando ser, e esse esforço é desnecessário e contraproducente.


O que vai te ajudar é relaxar.  É aceitar o seu momento assim como ele é. Se Deus quisesse que fosse diferente, ele teria feito diferente. Aí temos o sol. Se não fosse para ter sol, estaria escuro ou nublado. É questão de desistir de querer mudar as coisas. Isso é aceitação. Essa é uma grande chave para que o discípulo brote de seu coração, para que as qualidades do discípulo brotem de seu coração, para que o mestre brote de seu coração.


Você só alcança aquilo que você veio para alcançar quando você deixa de desejar. Quando você relaxa e aceita.


OK, hoje eu não fui leal. Hoje não fui obediente. Então, peço perdão – “me perdoe, mestre”, “mestre, você também não foi bom o suficiente, porque você não me ajudou a ser leal e obediente...”. (risos) Tudo bem. Não fomos perfeitos hoje. Estamos todos OK com isso. Estou relaxado, aceitando as minhas imperfeições. Hoje não dei conta de te ajudar a ser perfeito, hoje não te ajudei a ser leal, a ser obediente. OK. Isso não é um problema para mim. Estou relaxado. Eu aceito minhas limitações.


Se eu for querer brigar com isso, aí vou ter um problema.


Como fica a questão de relaxar e aceitar com a questão da disciplina, que é necessária?
Isso faz parte da obediência. Você faz aquilo que lhe é determinado dentro de seu alcance e de sua possibilidade. Hoje você não conseguiu realizar? “OK, hoje eu não pude, amanhã vou tentar de novo”. Mas a disciplina é fundamental. O compromisso é muito importante pois tem a ver com obediência e disciplina.


Num primeiro momento, é muito importante que haja um compromisso – e a base do compromisso é a disciplina. Até que aquilo se transforme em sua própria vida. Até que aquilo seja você. Mas no começo da jornada, enquanto você ainda não desenvolveu essas qualidades, então se faz necessário o compromisso.


Mas, OK, hoje você não conseguiu dar cabo de seu compromisso. Você não fez a sua parte. O que você faz? Vai ficar culpado, se chicoteando, se batendo porque não pôde realizar? Não! Simplesmente relaxe. Aceite: “OK, hoje eu não consegui. Amanhã eu começo de novo”. E comece o dia realmente assumindo seu compromisso.


Quem sabe nesse dia você consiga ser mais leal, obediente, disciplinado?
E assim por diante. Porque é assim que funciona. Estamos falando de um processo de descondicionamento. Não é tão simples descondicionar uma mente condicionada por tantas vidas. A ignorância é produto das ações de muitas vidas. E você deve se comprometer em dar o seu melhor. É o que você pode – dar o que tem! Se você quiser dar aquilo que não tem, está criando problemas para você. Esse é o eu idealizado.


“Hoje não fui um bom discípulo”. Aí se culpa porque não foi um bom discípulo... tem de ser um bom discípulo! Você tem um problema! Relaxe, respire, aceite, já foi. Isso é passado! É só um pensamento. Hoje é um novo dia. Comece de novo. Reassuma seu compromisso. Reassuma sua lealdade, sua obediência – o que foi, foi e nada poderá ser feito. Absolutamente nada.


Isso é um renovar constante. A cada instante. Se você está preso na necessidade de ser melhor, de ser aquilo que não é, você estará preso no tempo psicológico. Você não se perdoa. Você estará se culpando o tempo todo. E a culpa, assim como o apego ao passado e à sua própria imperfeição do passado, vão te fazer querer ser diferente. Dessa forma, você não relaxa.


Estou lhe dizendo: relaxe, solte o passado, aceite, inclusive suas imperfeições. E dê o seu melhor. Faça aquilo que você puder. Assim nós vamos nos entendendo pouco a pouco.


(Do site http://www.prembaba.org.br )

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Música dos Iniciados da Luz - Por Wagner Borges


Que a Mãe Divina nos inspire, para que toquemos, em nós mesmos, a boa música e para que possamos ser:
A flauta de Krishna;
O som do amor de Jesus;
O alaúde de Alla-Had;
A voz do silêncio de Buda;
O som do TAO de Lao-Tzé;
A harmonia de Hermes Trismegisto;
O som das esferas de Pitágoras;
O timbre dos gongos de Amithaba e Manjushiri;
A compaixão de Kwan Yin;
A vibração de Paramahamsa Ramakrishna;
O olhar comunicativo de Ramana Maharishi;
O brilho do olhar de Paramahamsa Yogananda.
Enfim, que possamos ser o som da esperança na Terra, irradiando e canalizando para todos os seres a maravilhosa música do AMOR UNIVERSAL.
OM, AMOR, PAZ E LUZ, AMÉM, HUM, RÁ, AXÉ.
O SENHOR NOS ACOMPANHE!
OM NAMAH SHIVAYA!
OM MANI PADME HUM!
OM BRAHMAN!
OM NAMO NARAYA NAYA!
OM... MÚSICA... AMOR... TODOS OS SERES...
PAZ E LUZ nas idéias.
AMOR no âmago dos corações.
UNIÃO de todas as fraternidades da luz, para o BEM de todos.
A música da alma é o BEM tocando as cordas do coração e encantando a vida com o trabalho espiritual digno.
Sejamos todos irmãos de ideais superiores.
Sigamos os desideratos espirituais.
Sejamos iniciados em fazer o Bem.
Carreguemos a tocha da humanidade, pois o maior iniciado é aquele que ama silenciosamente as humanidades de todo o Universo.
Sejamos PAZ E LUZ no grande templo de nossas almas.
Que o Grande Arquiteto Do Universo nos inspire a lutar por objetivos sadios na existência.
OM, OM, OM... Poderosos pensamentos de PAZ, LUZ E AMOR a todos!
- Os Iniciados* -
(Recebido espiritualmente por Wagner Borges – Texto extraído do livro “Viagem Espiritual – Vol. III” – Editora Universalista – 1998.)
- Nota:
* Os Iniciados - grupo extrafísico de espíritos orientais que opera nos planos invisíveis do Ocidente, passando as informações espirituais oriundas da sabedoria antiga, adaptadas aos tempos modernos e direcionadas aos estudantes espirituais do presente.
Composto por amparadores hindus, chineses, egípcios, tibetanos, japoneses e alguns gregos, eles têm o compromisso de ventilar os antigos valores espirituais do Oriente nos modernos caminhos do Ocidente, fazendo disso uma síntese universalista. Estão ligados aos espíritos da Fraternidade da Cruz e do Triângulo. Segundo eles, são “iniciados” em fazer o bem, sem olhar a quem.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Irmandade Invisível



- Por Huberto Rohden -


Desde que me encontrei com o Grande Anônimo,
Me tornei anônimo do meu velho ego,
Esse ego faminto de nomes...
E ingressei na Fraternidade Branca
Dos irmãos anônimos,
Incolores,
Amorfos,
Invisíveis,
Onipresentes...
Ingressei na mística "ekklesía"
Dos arautos da Divindade,
Das vestais do Fogo Sagrado.
Que operam no mundo inteiro,
Em todos os universos do Cosmos.
Mas ninguém os conhece,
Esses anônimos,
Envoltos no manto branco
Do eterno silêncio,
De inefável beatitude...
Onde quer que haja uma dor
A ser suavizada,
Uma alegria
A ser compartilhada,
Onde quer que agonize
Um coração chagado,
Lá estão os Irmãos Anônimos
Da Fraternidade Branca...
Nenhum monumento ostenta seus nomes,
Nenhuma estátua perpetua seus atos,


Nenhum obelisco lhes canta as glórias,
Nenhum poema celebra a grandeza
Desses invisíveis arautos do bem,
Dessas alvas vestais do amor...
Somente nas páginas brancas
Do livro da vida eterna
Estão escritos seus nomes,
Com as tintas da reticência,
Em perpétuo anonimato...
Suas obras ocultam sempre
Suas pessoas...
A presença do seu visível "agir"
Coincide com a ausência do seu invisível "ser"...
Porque anônimos como Deus
São esses ignotos filhos de Deus,
Benéficos raios solares
Do Grande Sol do universo,
Sempre ausente de mim
E sempre presente a Ti...
Na Tua longínqua transcendência,
Na Tua propínqua imanência...
Desde que me encontrei com o grande Anônimo
Me tornei anônimo do meu eu humano,
Eclipsado por seu Tu divino,
Pelo eterno Eu divino
Em mim...


(Texto extraído do inspirado livro "Escalando o Himalaia"; Martin Claret.)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A Sabedoria de Sri Aurobindo



É ISTO O FIM?


É isto o fim de tudo o que fomos,
E tudo o que fizemos ou sonhamos?
Um nome não lembrado e uma forma desfeita.
É isto o fim? 


Um corpo apodrecendo sob a laje de pedra
Ou transformado em cinza pelo fogo.
Uma mente dissolvida, perdidos seus esquecidos pensamentos.
É isto o fim?


Nossas poucas horas que foram e não mais são,
Nossas paixões outrora tão elevadas,
Sendo zombadas pela terra tranqüila e a calma luz do sol.
É isto o fim? 


Nossos anseios de elevação humana em direção a Deus
Passando para outros corações
Iludidos enquanto o mundo sorri para a morte e o inferno.
É isto o fim? 


Caída está a harpa, ela jaz despedaçada e muda;
Está morto o invisível tocador?
Por que a árvore tombou onde o pássaro cantava,
Deve o canto também emudecer? 


Aquele que na mente planejou e desejou e pensou,
Trabalhou para reformar o destino da Terra,
Aquele que no coração amou e suspirou e esperou,
Também chega ele ao fim? 


O imortal no mortal é seu Nome;
Aqui uma divindade artista
Em formas mais divinas, sempre se remodela,
Sem vontade de cessar. 


Até que tudo seja feito, para o que as estrelas foram criadas,
Até que o coração descubra Deus
E a alma se conheça. E mesmo então
Não há nenhum fim. 


(Texto extraído do belo livro "Sabedoria de Sri Aurobindo"; Editora Shakti).


“Se, no Vazio sem significado, a criação surgiu;
Se, de uma força inconsciente, a Matéria nasceu;
Se a Vida pode se erguer na árvore inconsciente,
E o encanto verde penetrar nas folhas esmeraldinas,
E seu sorriso de beleza desabrochar na flor,
E a sensação pode despertar no tecido, no nervo e na célula,
E o Pensamento apossar-se da matéria cinzenta do cérebro,
E a alma espiar de seu esconderijo através da carne, 
Como não poderá a luz ignota se lançar sobre o homem, 
E poderes desconhecidos emergirem do sono da Natureza?
Mesmo agora, insinuações de verdades luminosas como estrelas,
Erguem-se no esplendor da mente lunar da ignorância;
Mesmo agora, o toque imortal do Amante sentimos,
Se a porta da câmara apenas estiver entreaberta,
O que então pode impedir Deus de furtar-se para dentro,
Ou quem pode proibir seu beijo na Alma adormecida?”
- In Savitri –
- Sri Aurobindo


Nota de Wagner Borges:


Savitri (do sânscrito): Raio solar ou feixe destes raios; célebre hino de Visvamitra em homenagem ao sol. Sobrenome de Uma ou Parvati, a Mãe Divina, esposa de Shiva; nome próprio da mulher de Satyavan no épico “O Mahabaratha”; e também nome de um épico escrito pelo sábio Sri Aurobindo.


Sri Aurobindo (Aurobindo Ghose - Índia, 1872-1950) foi um dos maiores mestres da Índia. O seu trabalho tornou-se conhecido como “O Yoga Integral”, porque, como ele dizia, “Toda vida é Yoga”. Para mais detalhes sobre os seus escritos inspirados, ver o excelente livro “Sabedoria de Sri Aurobindo” – Editora Shakti, e o site da Casa Aurobindo no Brasil: http://br.geocities.com/casa_sri_aurobindo/

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O PECADO DE MINHAS ORAÇÕES - Por Huberto Rohden





O PECADO DE MINHAS ORAÇÕES
- Huberto Rohden -


Penso com horror nas minhas preces de outrora,
Quando eu pedia alguma coisa
Vida, saúde, prosperidade e outros ídolos
Como se algo houvesse de real,
Fora de ti, meu Deus,
Realidade única, total, absoluta!


Como se em ti não estivessem contidas
Todas as coisas do universo!...


Como se todos esses pequenos "realizados"
Não fossem reflexos de ti, o grande "Real"!...


Tamanha era a minha ilusão dualista,
Que eu julgava poder possuir algum efeito individual
Sem possuir a Causa Universal!...


Hoje morreu em mim toda essa idolatria,
Esse ilusório dualismo objetivo.


Redimido pela verdade libertadora,
Sinto, hoje, nas profundezas do meu Ser,
O grande monismo do Universo.


Hoje, o alvo das minhas orações
És tu, Senhor, unicamente tu.


Hoje, sei e sinto que, possuindo a ti,
Possuo em ti todas as coisas
Que de ti emanaram,
E em ti ficaram...


Todas as coisas que, por mais distintas de ti,
São todas imanentes em ti.


Porque tu és a eterna Essência
De todas essas Existências temporárias.


Hoje não quero mais nada
Senão a ti somente, Senhor,
Porque em ti está tudo
Que, fora de ti, parece existir.


E, porque assim te amo, Senhor,
Amo também tudo que é teu,
Tudo que, disperso pelo cenário cósmico,
Veio de ti,
Está em ti,
Voltará a ti.


Revestiu-se de mística sacralidade
O meu antigo amor profano,
Desde que vejo o Deus do mundo
Em todas as coisas do mundo de Deus.


E o pecado das minhas orações de outrora
Foi remido pela verdade da minha prece de hoje.


(Texto extraído do excelente livro "Escalando o Himalaia"; Editora Martin Claret.)

sábado, 1 de janeiro de 2011

MAIS UMA ORAÇÃO DA PRESENÇA - Por Wagner Borges



(Com Alma Celta e Coração Lindo)*

Que você sempre tenha a mente aberta, para jamais estratificar os seus pensamentos em pontos de vista cristalizados no radicalismo.
Que você seja capaz de escutar o que o seu coração quer dizer.
Que você não pise em ninguém e, pelo contrário, estenda a mão para ajudar os seus irmãos em prova.
Que você jamais acalente a mágoa e o ódio, mesmo diante do aguilhão da ingratidão dos homens, porque isso escureceria o seu coração.
Que você não perca a sua inocência primordial, que nada tem a ver com a idade do seu corpo, mas com a sua própria essência espiritual.
Que um Grande Amor habite em seu coração, como um presente do Céu.
Que, mesmo que os dias anteriores tenham sido difíceis, você ainda se levante e venere a luz do novo dia como uma dádiva.
Que você saiba amar, sem se anular e sem se perder e também sem medo de compartilhar o seu coração com o Ser amado.
Que você não dependa de alguém para ser feliz; porém que você saiba que sua viagem pela vida pode ser linda com alguém ao seu lado.
Que, ao envelhecer fisicamente, você tenha a sabedoria de fazer a colheita de tudo de bom que plantou, sem se lamentar...
Que você jamais deixe de sonhar, mas que tenha o discernimento para estar com os pés no chão, sem perder a realidade de vista.
Que você não deixe a arrogância sequestrar a sua simplicidade, e nem que o mal conquiste o seu Ser.
Que você ore com alegria e gratidão, sabendo que a Presença escuta o seu coração.
Que você tenha a coragem de viver um Grande Amor, sem as barreiras do seu ego, e sinta-se honrado (a), por amar e ser amado.
Que você não permita que poder algum do universo, humano ou espiritual, possa roubar sua luz e tirar sua alegria.
Que você, mesmo com o materialismo do mundo tentando asfixiar os seus valores espirituais, jamais traia o seu coração, porque isso seria a maior das perdas.
Que, diante da dor de uma perda, você saia vencedor de si mesmo e continue vivendo com garra e alegria, na força do seu próprio espírito imortal.
Que você ame aos seus filhos, incondicionalmente, assim como a Presença o ama.
Que você beije com gosto, não com carência ou medo, e saiba que toda relação inclui uma fusão de energias entre os parceiros (e que você tenha a sabedoria de se envolver com alguém na luz).
Que, de vez em quando, você se pergunte o que seria de sua vida, se não houvesse boa música no mundo?...
Que você saiba que os seus animais de estimação são seus parceiros de viagem (mesmo quando estão velhinhos e adoentados); são presentes da Presença, para alegrar sua vida.
Que você honre aos seus pais e avós e jamais os desampare na velhice.
Que a Luz do Eterno se revele em seu coração e lhe dê a certeza da imortalidade da consciência.
Que, mesmo sem ser poeta, você seja capaz de ver a poesia nas coisas da vida: na alegria das crianças; num lindo pôr de sol; no desabrochar das flores; e no olhar de quem você ama...
Que você olhe para as estrelas, e ainda se emocione com a beleza do zimbório celeste (que repousa nas mãos do Ancião dos Dias).
Que você aprecie um dia ensolarado e agradeça a festa da luz na atmosfera, e saia cantando a vida...
Que você aprecie uma noite enluarada e deixe sua consciência viajar por aí...
Que você voe, em espírito, e comungue com as estrelas, mas, sem deixar de escutar o som dos passos da formiga.
Que você agradeça à Presença, pelos grandes amigos que ela colocou na senda de sua vida...
Que você escute o “Oran Mor”** em seu coração.
Que os seus olhos brilhem muito quando você ler essas linhas...
P.S.:
Ah, que os nossos corações se encontrem...
Aqui, nessas linhas, por obra e graça da Presença***.
Você, o leitor; e eu, o escritor, escutando, juntos, o “Oran Mor”...
Com nossos corações.
E que assim seja!
Paz e Luz.
(Dedicados aos meus amigos de Caxias do Sul e Veranópolis, na serra gaúcha: Tania Lima, Antonio de Cesaro, Elizandra Nunes, Neusa Brugero, Élio J. Chilanti, Patricia Tofoli Manini, Endinara Fabiana Siqueira, Ewelise Weber, Priscila Maria Favaro, e a todos da família do Aldo e da Leor; e também aos meus amigos Marco Antonio Petit e Marcos Malvezzi, e ao casal baiano Sergio e Tania Mota Nogueira Reis).
- Wagner Borges – voando com gratidão...
São Paulo, 03 de novembro de 2010.
- Notas:
* Há uma série de sete Orações da Presença publicadas no apêndice do meu livro “Flama Espiritual”. Então, essa aqui é a oitava (ou, talvez, a primeira de uma segunda série a ser realizada, por obra e graça da Presença.)
** Oran Mor, traduzido como “A Grande Melodia”, é o que existe de mais próximo sobre o mito da criação celta. Diz-se que o Oran Mor começou no silêncio, quando nada existia ainda. Depois a canção começou. A vida foi tocada na existência, e a melodia continuou desde então, para aqueles que a ouvem...
** A Presença – metáfora celta para o Todo que está em tudo. Quando os antigos iniciados celtas admiravam os momentos mágicos do alvorecer e do crepúsculo, costumavam dizer: “Isso é um assombro!” E assim era para todas as coisas consideradas como manifestações grandiosas da Natureza e do ser humano. Ver o brilho dos olhos da pessoa amada, a beleza plácida da lua, a alegria do sorriso do filho, ou o desabrochar de uma flor eram eventos maravilhosos. Então, eles ousavam escutar os espíritos das brumas, que lhes ensinaram a valorizar o Dom da vida e a perceber a pulsação de uma PRESENÇA em tudo.
A partir daí, eles passaram a referir-se ao TODO QUE ESTÁ EM TUDO como a PRESENÇA que anima a Natureza e os seres. Se a luz da vida era um assombro de grandiosidade, maior ainda era a maravilha da PRESENÇA que gerava essa grandiosidade. Perceber essa PRESENÇA em tudo era um assombro! E saber que o sol, a lua, o ser amado, os filhos, as flores e a Natureza eram expressões maravilhosas dessa totalidade, levava os iniciados daquele contexto antigo da Europa a dizerem: “Que assombro!”
Hoje, inspirado pelos amigos invisíveis celtas, deixo registrado aqui nesses escritos o “terno assombro” que sinto ao meditar na PRESENÇA que está em tudo. E lembro-me dos ensinamentos herméticos inspirados no sábio estelar Hermes Trismegisto, que dizia no antigo Egito: “O TODO está em tudo! O Inefável é invisível aos olhos da carne, mas é visível à inteligência e ao coração.”
O TODO ou A PRESENÇA, tanto faz o nome que se dê. O que importa mesmo é a grandiosidade de se meditar nisso; essa mesma grandiosidade de pensar nos zilhões de sóis e nas miríades de seres espalhados pela vastidão interdimensional do Multiverso, e de se maravilhar ao se perceber como uma pequena partícula energética consciente e integrante dessa totalidade, e poder dizer de coração: “Caramba, que assombro!”
Obs.: Enquanto eu passava essas linhas a limpo, lembrei-me de um texto do mestre búlgaro Mikhael Aivanhov. Segue-se o mesmo logo abaixo.
  
  
  
VIVAM NA POESIA

- Por Omraam Mikhaël Aïvanhov -
Andando pelas ruas e lojas, tomando o trem, o ônibus ou o metrô, vemos praticamente por toda parte apenas rostos desanimados, tristes, tensos, fechados, revoltados. Não é um belo espetáculo! E ainda que não tenhamos nenhum motivo para estar tristes ou infelizes, somos assim desagradavelmente influenciados: voltamos para casa com um mal-estar que transmitimos a toda a família. É essa a vida lamentável que os seres humanos estão continuamente criando uns para os outros.
Por que não se esforçam por apresentar sempre um rosto aberto, sorridente, luminoso? Eles não sabem como viver essa vida poética graças à qual poderão ficar maravilhados uns com os outros. A verdadeira poesia não está na literatura, a verdadeira poesia é uma qualidade da vida interior. Todo mundo gosta de pintura, de música, de dança, de escultura, das artes; por que então não fazer com que a própria vida interior fique em harmonia com essas cores, esses ritmos, essas formas, essas melodias?
É a poesia que amamos nos seres e que neles buscamos: alguma coisa leve, luminosa, que precisamos contemplar, sentir, respirar, algo que acalma, que harmoniza, que inspira.
Mas, quantas pessoas, que ainda não compreenderam isso, vivem sem jamais se preocupar com a impressão penosa que causam nos outros!
Lá estão elas, desagradáveis, mal-humoradas, com os lábios cerrados, as sobrancelhas franzidas, o olhar desconfiado, e ainda que tentem melhorar sua aparência exterior com toda espécie de truques, sua vida interior prosaica, comum, sempre transparece.
A partir de agora, então, deixem de relegar a poesia aos poetas que a escrevem. A vida que levam é que deve ser poética. Sim, a arte nova significa aprender a criar e propagar poesia em torno de si, ser caloroso, expressivo, luminoso, vivo!
(Texto extraído do excelente livro “Regras de Ouro Para a Vida Cotidiana” - Omraam Mikhaël Aïvanhov  - Editora Nova Era.